quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Capitulo 1

A Morte de Brant Napier e a Deusa da Vida

 Não pudera esquecer de seus pais, em seu leito de morte, foi o que mais lhe atormentou até então. Dentre seus amores e amigos, ninguém estava lá. Apenas rostos desconhecidos a aclamar por sua morte. Pensou então em sua amiga, que a poucos dias, havia sido enterrada viva em algum ponto da floresta. Observar toda uma população festejar por ambas mortes não era a principal fonte de tristeza em seu olhar; e sim, ver sua amada também festejar. Lhe fazer trair sua melhor companheira e assassinar seus parceiros, em troca de uma simples luxuria.  

 Isto é uma sorte ou um azar? Decapitado, sua cabeça posta em um mostruário como simbolo de vitória, e então, o mundo parou. Nenhuma mulher pós crianças no mundo durante longos anos. As terras secaram. Mal havia comida. E de repente, uma arvore imensa surgiu, tomando toda a região do reino de Helena. A arvore nomeada como "Arvore da Vida", junto com suas raízes, ofereceu plantações, uma vasta floresta que florescia até mesmo em cima das próprias raízes e galhos. Muita comida. A fome de toda a região desapareceu, e todos começaram a festejar, principalmente pelo nascimento da primeira criança desde o "fim". A criança recebeu o nome de Safira, princesa, filha de Helena.  

 Dentro da arvore, sua semente ainda vivia, eternamente, a moça dormia conectada a arvore dia à noite. Sem nem um nome, e esquecida, ela alimentou a arvore e toda a região. Sua aparência abandonada em uma gruta em baixo da arvore a mudava completamente. Antes uma jovem de cabelos negros e bronzeada, sua face e corpo repleto de cicatrizes de batalhas passadas, e seus belos olhos negros; agora com cabelos brancos e pele pálida e ainda mais jovem, sem nenhuma marca e defeitos, estava suja de terra e vestida com um trapo sujo. Ametista era seu nome de viva, agora completamente apagado. 

 Todas as semanas, um menino ia lhe visitar, levava flores e ouro, oferecendo presentes à moça que, respeitavelmente, nomeava-a Deusa da Vida. Desabafava todos seus temores e pensamentos com a mulher, a tratava como uma amiga. Os anos passaram, e o rapaz cresceu, tornou-se um homem apaixonado pela mulher adormecida. Agora possuía várias obrigações, era filho de Helena, príncipe de toda a região, quase tornando-se rei e desejava ter a moça como rainha. Seu nome era Brant Wa'kaid. Sua aparência era praticamente idêntica a de Brant Napier, podendo facilmente ter confundido com o cruel falecido. 

 A região, fechada pelos muros feitos de raízes da grande arvore, festejava a paz que conquistara com a aparição da imensa arvore de folhas roxas. A moça tornou-se tão famosa que, várias pessoas iam a gruta da arvore plantar flores, até formar um belo jardim. Mesmo sem o encontro direto do sol, as flores floresciam. A energia da arvore transmitia tudo que as flores necessitavam para viver. Era seu milagre.  Vários escritores locais escreviam romances sobre a moça, dando-lhe vários belos nomes, e mil e uma maneira de a despertar. Os romances eram infinitos, compartilhavam historias em que ela era uma deusa, e dava vida aos mortos, e essa lenda pegou. 

 Acreditando que a moça pudesse dar a vida para as coisas, estudiosos recolheram amostras de sangue para estudos, e descobriram que nela havia uma proteína que curava qualquer doença, e então, recolheram amostras da seiva que circulava nas raízes, e também encontraram essa mesma proteína. Remédios foram feitos, e a vida tornou-se mais longa. 

 Muitas pessoas tentaram seguir os métodos citados em romances para despertar a moça, e nenhum conseguiu. Historiadores começaram a pesquisar nos arquivos antigos sobre a moça, e descobriram que ela, antes de tornar-se o coração de uma grande arvore misteriosa, era uma moça, companheira de um assassino cruel. Ela havia sido enterrada viva naquele local. Condenada a morrer sufocada, mas não foi o que aconteceu. Os arquivos  a descrevia como calma, doce e gentil, porém, seguia o mal. Uma sacerdotisa das grandes montanhas do norte, a muito tempo, abandonando seu destino por um homem. 
 Um desses historiadores era Leon. Um homem belo, não muito alto, inteligente, de curtos cabelos ruivos e olhos azuis. Ele acreditava que a mulher fosse a chave para sua maior ambição. Desejava tomar o reino para si. Ela era a arvore, e a arvore era a vida de todos ali. Se ele pudesse controlar a arvore, poderia controlar toda a região. E foi assim que buscou métodos para a despertar. E então, pensou no assassino! A relação do assassino com a sacerdotisa parecia boa, para ela o seguir, o proteger, poderia haver algo bem mais que amizade e companheirismo. 

 Em busca de trazer o assassino de volta, ele recolheu todos os restos mortais que pode encontrar do homem, usou a seiva da arvore, e enfim, chamou alguns bruxos e magos negros. Várias tentativas fracassadas, até que Evangelin Morgan, uma feiticeira que controlava magias brancas, aliou-se a Leon e usou sua força para ressuscitar Brant Napier. Com sucesso obtido, Leon isolou-se na arvore sagrada junto com o corpo. 

 Brant, em seus primeiros dias após voltar a respirar e viver, apenas ficou deitado, de olhos fechados, aparantemente, adormecia. Parecia não ter percebido o que havia acabado de acontecer-lhe. Leon ficou impressionado com a magia de Evangelin, mas sentia que algo faltava. O corpo do rapaz estava completamente reconstruído, mas sua força vital parecia quase esgotada. Como se fosse morrer a qualquer momento. 
 * * *
 Em uma noite comum da semana do aniversário da Princesa Safira, Leon e Evangelin encontravam-se na gruta da arvore, observando o corpo fraco de Napier. Ele estava nu, coberto apenas com um cobertor fino. Vários dias haviam então passado desde que ressuscitaram o homem. Leon não estava nada contente com os resultados, e sua ansiedade atrapalhava o raciocínio básico de  Evangelin. Porém, nem tanto. 

- Talvez se ele recebesse uma grande dose de energia pura, ele pudesse voltar a viver. - Comentou Evangelin, olhando fixamente para o corpo de Brant Napier deitado no chão. 

- Eu já sei que ele precisa disso, porém, já usamos todos os tipos de energia disponível nesta região! - Leon gritou. 

- Ela - Apontou para a moça da arvore adormecida, pesa apenas por seus braços, pendurada no alto. - Porque não usar o sangue dela como energia? Ela é a vida de tudo isso aqui, e era uma grande sacerdotisa no passado. Deve haver energia pura dentro dela. 

- Uma transfusão de sangue? - A expressão de Leon mudava rapidamente, curioso sobre o método de Evangelin. 

- Não, apenas dar uma dose de sangue dela na veia de Brant.  

 E foi o feito, retiraram apenas uma siringa de sangue da mulher, e penetrou no braço de Napier, que não demostrou nenhuma reação. Evangelin tocou o pulso do homem, e sorriu. Os batimentos estavam mais rápidos, e sua pele parecia mais corada. E então, convidou Leon a se retirar. Poderia ser constrangedor o homem acordar próximo de dois estranhos estando completamente nu. Mas antes, deixou peças de roupas para Napier. 

 Mal havia passado meia hora desde a saída do casal, Brant acordou, confuso, notou sua nudez, mas a ignorou. A primeira coisa que notou foi a mulher presa na arvore como uma prisioneira com raízes enroladas e penetradas em seus pulsos. Seu rosto era familiar, não hesitou em aproximar-se, e toca-la. A pele macia da mulher encantava-o. Não sabia onde estava, porém, não demostrou medo ou ansiedade, permaneceu completamente sério. Pensava em sua morte, lembrava de cada segundo. Não entendia o que estava fazendo ali. Caminhou por todo o salão de madeira e terra, observando calmamente todas as flores que floresciam ali mesmo sem sol. Impressionado. Vestiu a calça que estava junto com algumas peças de roupas. 

 Leon não conseguiu suportar muito tempo, adentrou na gruta, e deparou-se com Brant ainda se vestindo. Evangelin, logo atrás, gargalhou. Começou a contar tudo que havia ocorrido enquanto Brant estava morto, e porque ele estava ali. Evangelin era uma mulher sedutora, e muito mais comunicativa que Leon. Após a explicação, Brant não demostrou quaisquer reações, apenas suspirou, e voltou a olhar para a moça. E não conseguia "enxergar" Ametista nela. As características físicas eram parecidas, mas a genética estava distante. Onde estava o cabelo curto negro, e a pele bronzeada? E suas cicatrizes? Estava tão bela. Mesmo suja de terra, com os cabelos tocando o chão, e semi nua. Era uma visão bela, dependendo do angulo. 

- Sua obrigação é a despertar. - Resmungou Leon, atrapalhando o silencio. 

- E como eu deveria fazer isso? Mal a reconheço. - Napier respondeu calmamente.

- Se vira. - Resmungou novamente, enquanto saia da gruta acompanhado de Evangelin. 

- Faremos que fiquem a sós o tempo que for necessário, fique à vontade Sr. Napier. - Finalizou Evangelin. 

 O silencio novamente dominava o local. Napier olhou para os lados, e não encontrou nada alem de barro, flores, grama. Nada afiado para cortar as raízes que a prendia. O casal não havia lhe deixado nem ao menos uma espada, por medo do homem os atacar. 

 Andou de um lado para o outro, e não pensava em nada que a pudesse acordar, então, lembrou de uma musica que ela estava sempre cantarolando ao seu lado enquanto viva. Não pode esquecer tal melodia mesmo após a morte. Imaginava que, talvez, aquela melodia poderia a despertar. Lembrar de seu tempo como viva poderia a fazer desejar acordar. Fracassando. Não sabia o que fazer, e então, começou a lembrar de seu passado, quando a abandonou, a entregou para a rainha. Lembranças vinham e iam, junto com sua culpa. Jamais podia esquecer de ter dançado na chuva com a sacerdotisa quando haviam se conhecido.